Foto: José de Oliveira B. Filho.
Foto: José de Oliveira B. Filho.
Foto: José de Oliveira B. Filho.
Foto: José de Oliveira B. Filho.
Foto: José de Oliveira B. Filho.
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Fonte: Arquivo Público da Cidade de Aracaju.
TARDES E NOITES DE DOMINGO
TARDES E NOITES DE DOMINGO
Embora criada com fóruns de capital, como São Cristóvão foi fundada como Cidade, Aracaju ganhou um glamour todo especial, realçado, muitas vezes, pelos seus mais eminentes cronistas e por uma legião de admiradores, conquistados ao longo do tempo. A marca trágica das febres ficou como página da história, arquivada no passado. As duas necessidades básicas do seu urbanismo, o saneamento e o embelezamento, tomaram o lugar das áreas pantanosas, dos córregos, dos alagados, honrando o projeto original, do xadrez de quadras, com ruas simétricas, praças, tendo como peão de ordenamento a Praça do Palácio, hoje Fausto Cardoso.Desde cedo, portanto, que a Praça Fausto Cardoso é um ponto importante na planta da cidade, que daqui a dois anos completará 150 anos. Na Praça a Ponte do Imperador, ali construída para receber Pedro II, sua mulher e comitiva, em 1860. De lá para cá o tempo fez da Praça um recanto especial, um ponto de convergência para os encontros amorosos, as retretas, as festas, as missas, as concentrações políticas, os ajuntamentos das procissões de Bom Jesus dos Navegantes, e tantas outras reuniões sociais.Na Praça, em 26 de agosto de 1906 morria, assassinado, o deputado federal, poeta e pensador Fausto Cardoso, que acabara de depor o presidente do Estado, desembargador Guilherme Campos, irmão e preposto do monsenhor e senador Olímpio Campos. O nome do mártir ficou, como testemunharia, por anos seguidos, as homenagens prestadas ao pé da sua grande estátua, chapéu na mão, imortalizando aquele cenário com sua revolução e morte, e onde está a inscrição lapidar: “A liberdade só se prepara na história, com o cimento do tempo e o sangue dos homens.” O monsenhor Olímpio Campos, também morto no episódio que ficou conhecido como “a tragédia de Sergipe” ganhou, na outra praça, monumento e culto à sua memória.Poucos lugares aracajuanos carregam tanta simbologia, tem tanto a ver com a vida da cidade, quanto a Praça Fausto Cardoso, seguida da própria Praça onde está a Catedral: diferentes em suas denominações e em seus usos. Da Praça a cidade ramificava-se para todos os lados, beirando o rio Sergipe, espelho de águas interioranas, com cheiro de açúcar que os saveiros traziam para os armazéns e trapiches, antes que fossem adoçar os alimentos por várias partes do Brasil e do mundo. Pela rua João Pessoa, que antes teve os nomes de rua do Barão e rua de Japaratuba, o comércio escorria, de cima a baixo, o movimento do povo. A Praça Fausto Cardoso era uma divisa da cidade: para o norte, o comércio, os bancos, os estacionamentos, o porto, a estação ferroviária, os mercados, os caminhões de feira, e, mais adiante, as fábricas do bairro Industrial; para o oeste as ruas populares – Vitória (hoje Carlos Burlamaqui) e Bonfim (hoje Getúlio Vargas, mas também já foi Sete de Setembro), São Cristóvão e Laranjeiras, as oficinas, os bairros populosos; para o sul as residências burguesas, senhoriais, as ruas arborizadas, o caminho das praias.Em 1955 a Praça Fausto Cardoso ganhou um novo equipamento, que embora construído no início da rua de João Pessoa foi sempre uma conexão com a vida social da praça: o Cine Pálace, dotado de formas modernas, poltronas acolchoadas, ar condicionado central, pinturas de Jenner Augusto nas paredes, pequenas arandelas revelando o degradê, enfim um espaço luxuoso, que atraía nas tardes e noites do Domingo aracajuano multidão de pessoas, especialmente de jovens, para os seus filmes, nas sessões das 14, das 17, das 19 e das 21 horas, quando o som de Eb Tide parecia envolver os seus freqüentadores.Havia uma harmonia em todo o conjunto próximo da Praça Fausto Cardoso. A rua João Pessoa, nos trechos entre a Praça e a rua de São Cristóvão, preparava as vitrines de suas lojas, com farta iluminação, para o Domingo. Parecia antecipar os centros comerciais de agora, que proliferam no mundo todo, iguais. Cada comerciante buscava a arte da decoração, para tornar suas vitrines cada Domingo mais belas, aos olhares de moças que andavam, indo e vindo, pelas calçadas da rua, num quem-me-quer que deixou saudades.O Cine Pálace exibia, pela tarde, em duas sessões, filmes americanos ou brasileiros leves, distraídos, e suas poltronas estavam, nos dois níveis do cinema, sempre lotadas. No intervalo entre as sessões do matinée as filas se formavam, compridas, pela rua João Pessoa ou, algumas vezes, pela travessa ao lado do cinema. Entre as 18 e 19 horas o jantar e a missa eram as atrações obrigatórias, mas as 19 horas o movimento começava a crescer, na porta do cinema, na rua João Pessoa, no footing que colocava os rapazes encostados nas paredes das lojas e as moças desfilando, com graça e beleza, nas calçadas, numa passarela elegante, cheirosa, muitas vezes propícia aos novos namoros.Na Praça, onde as moças completavam, ou iniciavam, suas rotas no quem-me-quer, casais de namorados escapavam dos olhares dos transeuntes, em idílios por entre os canteiros, tanto em direção a Ponte do Imperador, como nos velhos jardins, que já foram chamados de Olímpio Campos, entre as praças Fausto Cardoso e Olímpio Campos. Logo após as 20 horas começavam novas filas para a segunda sessão do Pálace, freqüentada por maiores, que podiam permanecer na rua até as 23 horas. Quando começava a Segunda sessão do Pálace, as 21 horas precisamente, as pessoas deixavam a rua de João Pessoa e a Praça Fausto Cardoso, ao mesmo tempo, rapidamente. As luzes das vitrines eram apagadas, as portas das lojas cerradas, a fila do cinema tragada pelo início do filme, todo o cenário desocupado. Dizia-se, com humor, que naquela hora estava solto o homem nu. Naquele tempo a nudez podia, ainda, afugentar as pessoas, principalmente as jovens que percorriam a rua de João Pessoa, como se desfilassem a procura de um par. Por anos seguidos as tardes e noites de Domingo reuniram multidões de rapazes e moças, tendo a Praça Fausto Cardoso, a rua de João Pessoa, as suas lojas, os seus cinemas – Pálace e Rio Branco, como ambientes especiais da vida social de Aracaju.
Fonte: Pesquise - Pesquisa de Sergipe / InfoNet - www.infonet.com.br/luisantoniobarreto
Um comentário:
Muito bem José.Esta é mais uma mostra de resgate e preservação do nosso patrimônio.Parabéns.
Izelte.
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