quinta-feira, 19 de março de 2009

Antiga Estação de Trem de Aracaju

Antiga Estação de Trem e o Armazém Macedo
Acervo pessoal de Ana Medina

Oficinas da Chemins de Fer Federaux du L'Est Brésilien
Album de Sergipe, 1820-1920.


Fachada da Antiga Estação
Album de Sergipe 1820-1920.

Chegada das tropas na Revolução de 30
http://www.estacoesferroviarias.com.br/

Fachada da Nova Estação de Trem - Praça dos Expedicionários
http://www.estacoesferroviarias.com.br/



Antiga Estação de Trem abandonada

GAZETA DE SERGIPE nr. 3.802 de 17-03-1969.




O trem chegou a Sergipe em 1913, como parte do plano de prolongamento do ramal de Timbó(atual Cidade de Esplanada, na Bahia), na linha que ligaria a Estação de São Francisco em Alagoinhas(na Bahia) a Sergipe. A Companhia Chemins de Fer Federaux du L'Est Brésilien administrou a linha Férrea de 1913 a 1935. A partir de 1935 passou a ser administrada pela V. F. F. Leste Brasileiro até 1975 e pela RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.) de 1975 a 1996. Atualmente é administrada pela Companhia FCA(Ferrovia Centro Atlântica).
Em Aracaju a antiga Estação de Trem estava localizada próxima ao antigo cais do porto da Rua da Frente, nas imediações do novo Mercado de Aracaju. O trem chegava à Estação pela antiga Avenida Artur Bernardes, atual Avenida Coelho e Campos, onde, na década de 70, ainda era possível ver os trilhos que restaram da linha férrea.
Murillo Melins no seu livro “Aracaju Romântica que vi e vivi anos 40 e 50”, informa que a Estação era uma construção com linhas arquitetônicas simples, como a maioria das estações ferroviárias da época ladeada por extensas plataformas. No alto da fachada da edificação, via-se impresso: 1911, ano da inauguração do prédio, e início do caminho de ferro em plagas sergipanas. Em sua estrutura, constavam as seguintes instalações: Armazém para a expedição de mercadorias; Salões para passageiros de 1ª e 2ª classes; Salão de bilheterias, Salas de Telégrafo, Inspetoria, Administração; Armazém de recepção de mercadorias e uns poucos sanitários.
Murillo Melins informa também, que os trilhos dos trens chegavam até o maior trapiche de Aracaju, o famoso Trapiche Brown, onde os comboios de carga descarregavam as mercadorias que chegavam, e carregavam açúcar, sal, coco e outros produtos que tinham vindo nas canoas, barcaças e saveiros, e que seriam exportados para a Bahia.
A Linha Estrela do Norte (Salvador-Aracaju-Propriá) Expresso de luxo com 320km, seguia o seguinte roteiro:
Salvador-Simões Filho-Camaçari-Dias d’Ávila-Mata de São João-Pojuca-Catu-Sítio Novo-Alagoinhas-Entre Rios- Esplanada- Rio Real- Cardeal da Silva- Aracaju- Propriá
Aos Domingos, Quartas e Sextas o trem chegava da Bahia e partia com destino a cidade de Propriá. Ás Terças e Quintas o trem chegava de Propriá e partia com destino a Bahia.
Antes do início da construção das grandes rodovias, durante muitas décadas, as cidades dependiam da ferrovia, social e economicamente. As pessoas aguardavam a chegada do trem com muita expectativa. O ato de ir a Estação e ver os passageiros chegando e outros saindo era motivo de festa. Em muitos casos era a vida de uma cidade.
Na década de 50 uma nova e moderna Estação foi inaugurada na Praça dos Expedicionários, no bairro Siqueira Campos, junto às Oficinas da Rede Ferroviária Federal. O itinerário foi mudado, chegando o trem pela Avenida Rio de Janeiro(atual Avenida Augusto Franco) e seguindo pela Avenida São Paulo e vice-versa. Tempos mais tarde os trens de passageiros foram desativados, ficando somente os de transporte de cargas.

segunda-feira, 9 de março de 2009

UM RESISTENTE ENTRE NÓS







A Ponte Valentré e a Cidade de Cahors - França.
Cartão Postal - APACOLOR, 1981.





Jacques Siviol na Patagônia - Argentina





Grupo franc "Roland" nas florestas de Saint Germain du Salembre - Dordonha - França.
La Resistance contre le nazisme et le régime de Vichy en Dordogne de 1939-40 à 1945.
Imprimerie Moderne - Périgueux, 1996.



Le corps-franc "Roland" em 1944 - Dordonha - França.
La Resistance contre le nazisme et le régime de Vichy en Dordogne de 1939-40 à 1945.
Imprimerie Moderne - Périgueux, 1996.



Jacques Henri Siviol.




Citação da Condecoração da Cruz de Guerra.






Cerimônia de Condecoração com a Cruz de Guerra em 1947. Jacques Siviol é o que está atrás à direita, esperando para ser condecorado.
POIRIER Jacques R.E. La Girafe a un long cou. Éditions Fanlac, Perigueux, 1992, p 163.







Nesta semana, no dia 10 de março (terça-feira), um Herói irá completar 84 anos de vida. Não é um Herói de revista em quadrinhos ou de filme. Trata-se de um Herói de Guerra, ex-Membro da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que mora aqui em Aracaju. Refiro-me a Jacques Henri Siviol, nascido em Cahors, região da Dordonha, sul da França, que foi agraciado com a “Croix de Guerre”(Cruz de Guerra), uma condecoração militar francesa, na patente de Sargento das Forças Francesas do Interior. A foto recebendo esta condecoração foi impressa no livro: POIRIER, Jacques R. La girafe a un long cou...Éditions Fanlac, Périgueux, 1992 p 163. e o nome citado no livro: ANACR.La Resistance: La Lutte Contre Le Nazisme et Le Regime de Vichy. Témoignages et documents. De 1939-40 à 1945 En Dordogne. Imprimerie Moderne-Perigueux, p. 697.
A Resistência Francesa foi o conjunto de movimentos formado por membros de várias localidades da França, chamados de “Partisans” (partidários, em francês), que não aceitavam a submissão e o colaboracionismo do Estado Francês, durante a ocupação alemã que se iniciou em 1940. As ações dos Resistentes incluíam tarefas como dificultar a comunicação, sabotagens de linhas de trens e explosões de pontes, que atrapalhavam o transporte de tropas e armamentos alemães. Jacques Siviol afirma que com essas ações, a Resistência Francesa contribuiu para desestabilizar a “Grande Máquina” organizada alemã, durante a sua estadia na França.
Com a chegada das Tropas Aliadas no famoso dia D(06 de junho de 1944), deu-se o início da derrota alemã. A Itália de Mussolini caiu e no Japão foi utilizada pela primeira vez a Bomba Atômica (Hiroshima e Nagazaki) e com ela o conseqüente fim da Guerra. A Europa ficou arrasada moralmente e economicamente falando. Na França do Pós-Guerra a situação era difícil. E foi nessa dificuldade que Jacques Siviol embarcou para a África, para trabalhar para o Governo Francês, em um Órgão semelhante ao nosso DER, abrindo estradas pelo interior da Costa do Marfim, então Colônia Francesa. Mas, segundo ele, os movimentos de Independência começaram a surgir na África, o que o levou a seguir os passos de seus compatriotas, vindo de navio para a América do Sul, mais precisamente para a Argentina. Da Argentina vai ao Paraguai, onde residiam franceses amigos seus. Do Paraguai finalmente chega ao Brasil: Paraná e depois São Paulo, onde trabalha em uma oficina mecânica, de propriedade do francês Jean-Pierre Le Roch, que anos depois ao retornar à França, criou uma Rede de Supermercados – Intermarché – considerada atualmente uma das maiores da Europa. Como um cigano, Jacques Siviol resolveu voltar para a África. Por sorte, o navio em que embarcou saía do Porto de Santos e fazia escala em Salvador, antes de atravessar o Atlântico. Foi aí, chegando pela manhã na Baía de Todos os Santos, que a sua vida iria mudar mais uma vez. Tudo o que ele queria estava em Salvador: O sol, o clima e a alegria do povo baiano. Foi para a África e voltou na semana seguinte para Salvador. Mecânico que é(trabalhava desde jovem com o pai em uma oficina e fez curso técnico em mecânica na França), trabalhou em algumas Companhias e mais tarde montou a sua própria oficina mecânica: A Oficina Paris. Tempos depois conheceu um francês que veio a ser um dos seus melhores amigos, Fernand Delaferté, que o convidou a trabalhar na Companhia Schlumberger, que prestava serviços à Petrobrás. De Salvador, foi trabalhar por 02 anos nesta mesma Companhia na Argentina(Patagônia). De volta ao Brasil, foi para Maceió. Quando o Petróleo foi descoberto em Sergipe, chega finalmente a Aracaju, ainda trabalhando na mesma Companhia. Em 1978, foi convidado a trabalhar na Samam Diesel, como Chefe da Mecânica, quando da chegada em Sergipe, dos caminhões FIAT. Nesta brincadeira, como ele mesmo costuma dizer, são 42 anos de Aracaju.
No momento, Jacques Siviol, com a sua experiência, diz estar muito preocupado com o Brasil e o mundo, principalmente depois dessa crise econômica. Ele comenta que, após a Segunda Guerra Mundial, vários foram os progressos no mundo, e que trouxeram muitos benefícios para a humanidade, mas, infelizmente apesar de todos esses recursos, os homens não aprenderam nada, continuam a cometer os mesmos erros.
Esta é uma pequena homenagem a um homem que, aos 17 anos de idade, viu a Guerra bater à sua porta. Não foi convocado pelo Exército Francês para lutar, o fez por conta própria, na clandestinidade, com o propósito de defender o seu país. Que isso sirva de exemplo para nós, para que saibamos lutar pelo nosso país, contra os possíveis inimigos externos e internos. Parabéns Jacques Siviol.


José de Oliveira Brito Filho
Professor de História




Artigo publicado no Jornal Cinform nr. 1352 de 09 a 15 de março de 2009.