quarta-feira, 4 de abril de 2012

CACIQUE CHÁ

Bar e Restaurante Cacique Chá
Foto: Arquivo Público Municipal da Cidade de Aracaju.




Painéis pintados por Jenner Augusto - Cacique Chá Foto: Jornal Gazeta de Sergipe nr. 5.956 - 18/02/1978.




Cacique Chá - Área externa.
Foto: Jornal Gazeta de Sergipe nr. 5.956 - 18/02/1978.




Cacique Chá - Área externa.
Foto: Jornal Gazeta de Sergipe nr. 5.956 - 18/02/1978.





Conjunto Musical Cacique Chá
MELINS, Murillo. Aracaju romântica que vi e vivi. 3 ed. Aracaju: Unit, 2007.



Boite Cacique - Casais dançando
MELINS, Murillo. Aracaju romântica que vi e vivi. 3 ed. Aracaju: Unit, 2007.




O Cacique Chá, localizado na esquina da Praça Olimpio Campos com a Rua Itabaianinha, foi bar, restaurante e boite, tendo iniciado as suas atividades em 1950, tendo a Luna Orquestra como atração principal na inauguração da luxuosa boite.

O fotógrafo Artur Costa foi o seu primeiro proprietário. Em 1953, por motivo de saúde, o Sr. Artur o vendeu para o Empresário Manoel Felizardo Nascimento, que alteou o nome de fantasia para Bar e Restaurante Cacique Chá. Em 1955 foi vendido à Firma Amaral & Freitas.

Segundo o Memorialista Murillo Melins, o Cacique foi a primeira boite familiar de Aracaju. Era o ponto de encontro da High Society, nos sábados à noite.

Murillo Melins ainda nos informa:

“Os ingressos às mesas, com quatro assentos, eram confeccionados em cartão postal, com fotografias em miniaturas dos pontos turísticos de nossa Cidade, informando data da festa, preço da mesa e atrações a serem apresentadas.

O traje passeio completo era obrigatório para os homens, já as senhoras e senhoritas, esmeravam-se em comparecer com seus melhores e caros vestidos.”

Vários artistas famosos se apresentaram no Cacique Chá, dentre eles, Gregório Barros, o Rei do Bolero, o mexicano Pedro Vargas, Lucho Catita, o Pianista Roberto Inglês, Terezinha Morango (Miss Brasil), Nelson Gonçalves, Ivon Cury, Ângela Maria e Maiza Matarazzo.

O conjunto musical formado por Zelner Ximenes, Henrique, Osvaldo, Marcelo, Antonio Teles, Paulo Emílio e Antônio, animavam as noites de festa do Cacique Chá.

Também foi ponto de encontro de literatos, que religiosamente todas as tardes ali se reuniam.

Depois de anos fechado o Cacique Chá está sendo reformado e os belos painéis de Jenner Augusto que lá existem, estão sendo restaurados.


7 comentários:

Augusto disse...

Excelente materia.

Alexandre Mattos disse...

(Primeira Parte) O que de fato aconteceu, na sinistra madrugada, no Hotel Casarão, no dia 4/4/1984?
Para esclarecer com detalhes sobre a fuzilaria, ocorrida há 35 anos, no Hotel Casarão, eu preciso relatar o que ocorreu antes, na verdade, no ano de 1974, quando eu era um adolescente de apenas 14 anos de idade, para de fato, fazendo um nexo das causalidades, poder contar a minha versão sobre os fatos. Portanto, tudo começou assim:

Alexandre Mattos disse...

(Segunda Parte) Era cedo pela manhã, talvez umas 08:00 horas ou algo mais tarde, não lembro exatamente aquela horário, mas lembro que os meus pais já haviam saído de casa para o trabalho. Eu escutava no rádio um comentário de Wellington Elias, sobre um jogo entre Sergipe X Confiança, em que o comentarista jurava que tinha havido um pênalti em favor do Sergipe e o juiz não tinha marcado. No momento em que levantei da minha cama para ir até o banheiro, deparei-me com Maria, uma emprega que já trabalhava para a minha família há duas gerações, com um olhar espantado e a voz trêmula, Maria me disse: “_Tem um homem vestido num terno preto todo apertado e com um chapeuzinho querendo falar com você.” Não foi precisou a empregada entrar em mais detalhes para meu coração disparar, a boca secar, por pouco, não me melar na calça do pijama e me conscientizar de que eu estava em apuros, por tudo que eu tinha aprontado, na noite anterior, quando roubei as chaves do carro do meu pai e junto com os meus melhores amigos, Jorge Neguinho e Zipzip, saímos aprontando na antiga, pacata e saudosa Aracaju daquela época.
“__Bom dia, senhor.” Nossa Senhora! Era ele, o famigerado Saia Justa, investigador da Polícia Civil. Além daquele traje anacrônico de agente do FBI dos anos 50, o policial, ao falar, usava uma eloquência como se fosse um Cid Moreira de Carira, ademais: ninguém chama um adolescente de “Senhor”; a bronca parecia alta, e eu deixei o investigador continuar o que ele tinha a me dizer: “...pode me dizer o que o senhor fez ontem a noite?” As minha pernas tremiam, o coração parecia que ia evacuar pela garganta, suava frio,...”_Éééé..., euuu,..eu conto, eu conto tudo,...a gente só queria assustar Tazinho... e a gente pensava que ele tava era com uma puta no carro, parado debaixo das árvores, a gente não sabia que ele tava com a namorada,...foi só uma brincadeira...juro, foi só uma brincadeira!” “_Quem mais estava com você?” Saia Justa costumava mudar a eloquência e o tratamento, quando derrubava um caso. “_Só fui eu!” respondi com a voz trêmula. Mas você acabou de dizer que: “.. a gente só queria assustar. A gente quem?” Não tinha como desdizer o que eu acabara de confessar, terminei entregando, pelo menos, um dos meus amigos, para esconder o outro, afinal a gente teria de ser mais de um, mas não, necessariamente, mais de dois. “_Eu e Jorge!” Falei cabisbaixo para o policial que revidou, “O neguinho da moto?” Balançando a cabeça e me sentindo o judas, entreguei o amigo. “_Escute aqui, mocinho, você está preso domiciliarmente, entendeu?(sic) Não saia de casa até o delegado tomar as demais providências.” E dizendo isso, o policial deixou a casa dos meus pais em um Jipe comprido da Secretaria da Segurança.

Alexandre Mattos disse...

(terceira Parte)... Eu troquei o pijama, pulei o moro de trás da casa dos meus pais e corri para casa de Tanit, minha namorada na época. Cheguei na casa de Tanit contando tudo com detalhes: “_Eu Zipzip e o Neguinho estávamos, ontem a noite no Mini Golfe, rindo de Tazinho, achando que ele estava no carro com um rapariga parado debaixo das árvores, que ficam de frente para o Rio, aí Gilvan, irmão de Jorge, chegou com um revolver de espoleta da Estrela e a gente teve a ideia de assustar Tazinho, só que, quando chegamos lá, ele não tava com puta coisa nenhuma, mas com a namorada. Aí fudeu, a menina começou a gritar e não deu tempo da gente dizer que era brincadeira. Depois, a gente foi até a casa de Tazinho, que fica de frente para a Secretaria de Segurança, para dizer que era a gente e tudo não passava de uma brincadeira, mas, quando entramos na Rua de Itabaiana, Tazinho já estava prestando queixa e, ao nos avistar de cima da Secretaria, apontou para o carro do meu pai, que eu dirigia, mostrando para alguém do seu lado, provavelmente um policial. Saia Justa esteve na casa dos meus pais e me prendeu, disse que eu não posso sair da casa dos meus pais. Eu quero que você vá agora, até a caso do neguinho e leve esse bilhete para ele.” Eu entreguei o bilhete para a minha namorada com os seguintes dizeres: “Neguinho, fuja, despareça que Saia Justa vai lhe prender!”

Alexandre Mattos disse...

(Quarta parte) ...Retornei para casa dos meus pais e, durante o almoço, recebemos, mais uma vez, a não agradável visita do policial dos trajes negros a la FBI, que pedia o comparecimento do meu pai com a minha presença no gabinete do Delegado Dr. Clélio Lins Batista, este que, mais tarde, ficou conhecido internacionalmente como o Delegado do Amor, por montar um esquema de segurança, na década de 70, para proteção aos que praticavam corrida de submarino, na Praia de Atalaia. Para os que não sabem o que era “esse esporte”, eu explico, corrida de submarino, naquela época, quando não existia motel em Aracaju e sexo só era permitido com prostituta ou mulher com mais de 18 anos, caso contrário, aquele que seduzisse mulher virgem com menos de 18 anos e maior de 14 e com ela tivesse conjunção carnal, seria preso de 2 a 4 anos, segundo o já revogado artigo 217 do Código Penal, portanto, para aqueles que tinham carro, usavam o veículo e faziam sexo dentro dele de frente para o oceano. Clélio, por sua vez, tinha sido aluno do meu pai, na antiga Faculdade de Direito, que ficava na Rua da Frente e hoje faz parte da UFS, sabendo que tudo não passava de brincadeira de adolescentes, encerrou o caso disparando as espoletas da “arma do crime” que estava n sua mesa, causando muito barulho e provocando cheiro de pólvora insuportável, impregnando todo o seu gabinete. O delegado, que ainda não era o Delegado do Amor, mastigava, entre os dentes da frente, cigarro empurrando de um lado a outro da boca e, em quase tudo o que falava, terminava sempre com a expressão: ô pega! ô pega!
Os anos passaram e eu fui nomeado Delegado Adjunto, na época, esse cargo chamava-se Subdelegado. Por força do destino, fui encaminhado, por portaria do Secretário da Segurança, para trabalhar na Delegacia do Capucho. Surpresa minha, ao abrir a porta do gabinete do Delegado, deparei-me com o titular daquela especializada por trás de inúmeros calhamaços de inquéritos sob sua mesa, arrodeado de policiais, com um ar-condicionado ligado ao máximo e todos os presentes, naquele gabinete, fumando ao mesmo tempo, o que provoca uma fumaceira infernal que mais parecia aquele tipo de neblina, que impede de você visualizar, além de um metro, o que tem a sua frente. Sentado à mesa, assinando ofícios e falando ao telefone, virou sua cadeira em minha direção e perguntou-me: “_ Que foi hein, Zé?” Achando que eu fosse alguém que estivesse registrando um boletim de ocorrência, que, nessa época, chamava-se, queixa. Ao perceber o cigarro mastigado, que corria de um canto a outro na boca do delegado, não tive dúvida com quem estava lidando, ele mesmo: Dr. Clélio Lins Batista! Para completar mais ainda a minha surpresa, Saia Justa estava recolhido ao Xadrez daquela delegacia.

Alexandre Mattos disse...

(Quinta parte) ...No dia anterior a minha chegada a Delegacia do Capucho, Clélio e Saia Justa tinham se desentendido e Saia Justa puxado um dos seus 38, ele costumava usar dois 38 canela-secas, contra Clélio, que, por sua vez, saiu em disparada para se entrincheirar no Posto da Polícia Rodoviária Federal, da saída da Cidade, e de lá telefonou para o Superintendente da Polícia Civil, que nessa época, era o Coronel Barreto Mota. Barreto Mota enviou dois camburões da PM, até a Delegacia do Capucho, que desarmaram Saia Justa e o recolheram em um dos xadrezes.
Saia Justa foi suspenso e transferido para outra delegacia e, meses depois, Clélio exonerado por ter se antecipado no cumprido de um mandado de prisão, dentro do Palácio do Governo, ao prender o Chefe Cerimonial do governador. Eu passei a ser o titular da Delegacia do Capucho e, num final de um dia de serviço, quando eu resolvi estirar as pernas por cima da mesa e tirar um leve cochilo, naquele momento em que eu relaxava, escutei uma batida discreta, pelo lado de fora da porta do antes gabinete que era de Clélio e agora se encontrava sob o meu comando, a porta foi, vagorosamente, se abrindo e junto a ela uma voz suave ecoava de fora adentro, “Com licença, Doutor.” Era Walter Lopes, vulgarmente conhecido por Saia Justa. Para ser sincero, muito antes de Saia Justa ter me assediado na casa dos meus pais, eu já não gostava dele, mas como eu era novo e queria aprender tudo sobre investigação criminal, Saia Justa era, ao mesmo tempo, a melhor fonte de experiência policial em todo o Estado de Sergipe, sua fama corria longe a ponto dos policiais do Departamento Especial de Investigações Criminais, o D.E.I.C. de São Paulo, o venerarem. Mas era também uma pessoa perigosa a ponto de não ter amigos, nem mesmo dentro da própria polícia. Para se ter uma ideia sobre quem era Saia Justa, em uma das investigações que ele trabalhou comigo, ocorreu uma prisão bem sucedida de um vigarista do Paraná, que veio de Curitiba, aplicando golpes de Estado por Estado, até ser preso em Aracaju. Momento após efetuarmos a prisão e antes de recolhermos o criminoso ao xadrez da delegacia, a família do criminoso já havia sido avisada e um advogado enviado a delegacia. Aparentemente, para os dias de hoje, esta é a maneira mais correta de efetuar qualquer tipo de prisão, mas naquela época, o policial que se envolvia com o marginal para receber dele ou da família dele em troca de informações, não era bem visto pelos colegas e também pela sociedade. Depois dessa prisão, ocorreu um homicídio, no Cantinho da Saudade, uma zona de baixo meretrício que ficava junto ao Cemitério, e eu era o delegado de plantão.

Alexandre Mattos disse...

(Sexta parte)...Ocorre que este homicídio tinha conexão com o vigarista que eu havia prendido antes com a ajuda de Saia Justa e, desse dia em diante, eu passei a investigar Saia Justa, sem que ele soubesse que estava sendo investigado por mim. Portanto, semanas antes do tiroteio no Hotel Casarão, eu seguia os passos de Saia Justa diariamente, chegando a fazer inúmeras diligências investigatórias junto a ele. Antes da noite do tiroteio, eu tinha tido um dia muito exaustivo e, no final da tarde, fui o Bar do China, que ficava na Atalaia Velha, lá tomei bastante cerveja, ao retornar para casa, foi dormir, antes da 20:00 hora. Minha mãe, no dia seguinte ao tiroteio, quando eu acordei, me disse que alguém da delegacia tinha me ligado, na noite anterior, mas ela não quis me acordar porque eu dormia profundamente. Portanto, eis aqui o meu relato de tudo o que eu fiquei sabendo, quando cheguei a delegacia, sobre o confronto de Aragão e Saia Justa contra o assassino de motorista de táxi:
O Superintendente da Polícia era Fernando Matos e todas as delegacias da cidade e do interior estavam sob alerta para investigar e prender com vida, se possível, o assassino de motorista de táxi. A ordem de Dr. Fernando era cercar o local e com uma viatura nova, que a Secretaria da Segurança tinha acabado de receber do Governo, que tinha um auto falante junto à sirene, pedir para o criminoso se render. Aragão era um policial experiente e o braço direito do Coronel Barreto Moto, que, nessa época, tinha retornado para o quartel, e com Saia Justa foram informados que havia um suspeito hospedado no Grande Hotel. Precipitadamente os policiais experientes seguiram para o Hotel e não esperaram pelo reforço, que já estava a caminho. A escada, que dava acesso ao quarto do criminoso, era muito estreita, mal dava para uma pessoa de estrutura média subir sem arrastar na parede. O tenente Aragão foi o primeiro a ser almejado, quando bateu na porta do quarto, que o bandido se encontrava, foi surpreendido, recebendo tiros na boca, Saia Justa, que vinha atrás do tenente, por ser uma pessoa gorda, só para aqueles que nunca conheceram o tamanho de Saia Justa, segundo Chico Vila Nova, delegado que me substituiu na Delegacia do Capucho, disse-me, uma vez, que o viu comer, em menos de uma hora, no bar de Maciel, outro policial que tinha um bar frente a Delegacia do Capucho, 22 ovos cozidos, portanto imaginem esse gordo subindo uma escadinha que já era difícil para o tenente que era magro. Quando o bandido almejou Saia Just no peito, a escada evitou dele cair e, na oportunidade, Saia Justa revidou matando o assassino de taxista. O reforço chegou quando os dois policiais, ainda com vida, foram conduzidos em uma viatura para o hospital, mas o criminoso, que se agonizava no chão, em meio a uma poça de sangue, morreu antes do delegado da terceira delegacia armar a metralhadora Ina, que era de difícil manejo e, na maioria das vezes, as balas engasgavam no pente.
Essa foi a história que me foi passada por todos que fizeram parte dessa triste madrugada que finalizou com a vida de 2 conterrâneos policiais. Por mais que eu não gostasse de Saia Justa e por pior policial que ele tenha sido, não há como dizer que, de fato ele morreu como herói, assim como o tenente Aragão, que, também e sempre, foi herói!