sexta-feira, 2 de abril de 2010

A QUARESMA EM ARACAJU

A palavra Quaresma vem do Latim "Quadragésima", e é o período de quarenta dias que antecedem a Festa Maior do Cristianismo: A Ressureição de Jesus Cristo, comemorada no Domingo de Páscoa. A Quaresma tem o seu início na Quarta-feira de Cinzas e o término na Quinta-feira Santa com a Celebração que representa a última Ceia de Jesus Cristo com os Apóstolos. É um período de Penitência, Meditação e Oração.
O Memorialista Murillo Melins em seu livro Aracaju Romântica que vi e vivi Anos 40 e 50, nos conta um pouco de como era a Quaresma em Aracaju, nestas décadas:
"A partir da quinta-feira, estando os Santos nas igrejas cobertos com panos roxos ou pretos, começava a Via Sacra, simbolizando as estações que Jesus percorreu em seu calvário, solenidade melancólica, acompanhada por cânticos tristes, quando os fiéis contritos rezavam, muitos arrependidos pelos excessos cometidos no carnaval.
Os quarenta dias que se seguiam eram de reflexões, meditações, jejuns e penitências. Muitas pessoas se cobriam de luto, pagando promessas. Na programação das rádios e serviços de alto-falantes, eram tocadas músicas clássicas, valsas ou orquestradas.
O clima de religiosidade alcançava seu ápice na Semana Santa, começando no domingo pela manhã com a Missa de Ramos.
Na quarta-feira, em preparação para os dias maiores, fechava-se o "balaio". Havia trégua nas rusgas entre famílias. Era comum ouvir-se entre pais, filhos ou irmãos:"Depois que a aleluia romper nós acertaremos as contas".
Na Quinta-feira Maior, alguns atos religiosos eram celebrados nas igrejas das paróquias. Ainda pela madrugada, havia a procissão do fogaréu, durante a qual os católicso portando velas acesas, penitenciavam-se. Na parte da tarde, tinha lugar a cerimônia do lava-pés, simbolizando a humildade de Jesus e, em seguida, a procissão do encontro entre Jesus e Maria, durante o qual era ouvido um sermão comovente, proferido pelo pároco, que orava de um púlpito, instalado para aquela ocasião na calçada do casarão dos Cardoso.
Na Sexta-feira da Paixão, a cidade amanhecia em silêncio. Os sinos não badalavam. Apenas os rários tocavam músicas sacras ou clássicas. Desde cedo, os mendigos, com enormes mochilas de pano, a tiracolo, ou carregando bocapios, louvavam o nome de Jesus, de porta em porta, recebendo dos sensibilizados moradores, o pão, farinha, ou o bacalhau. Os afilhados se dirigiam às casas dos seus padrinhos, para de joelhos pedirem a bênção, sendo muitas vezes, eram agraciados com alguns tostões. À tarde, as matracas com seus tristes sons, anunciavam o início da procissão do Senhor Morto, durante a qual fazia-se ouvir o canto melancólico da Verônica, exibindo o retrato de Jesus. À noite, as igrejas recebiam os fiéis, para a vigília ao Senhor Crucificado. Nos cinemas eram exibidos filmes religiosos....
No sábado, a aleluia rompia na parte da manhã, sob o repicar dos sinos, o espocar dos foguetes seguido da gritaria dos meninos batendo com as pedras nos postes de ferro dos bondes, ou em latas...."
Ainda segundo Murillo Melins, "A quaresma encerrava com uma animada micareme na Praça do Povo, e com bailes em todos os clubes da cidade."

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